Como comunicar com os adolescentes hoje? Tânia Gaspar [ESSENCIAL]
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A psicóloga e investigadora Tânia Gaspar tem dedicado a sua vida ao estudo do desenvolvimento infantil e juvenil. No episódio [ESSENCIAL] revisitamos uma conversa urgente: como falar com os adolescentes de hoje, num tempo em que a escola, a família e a própria sociedade parecem falhar no apoio de que mais precisam? Como comunicar com os adolescentes hoje? Tânia Gaspar [ESSENCIAL]
Gaspar traça um paralelo revelador: no sistema de saúde, quanto mais grave é a doença, mais investimento é feito no doente. No sistema educativo, acontece o contrário — quanto maiores são as dificuldades, mais o aluno é deixado para trás. O insucesso escolar em Matemática, com turmas inteiras a reprovar, é apenas um sintoma. Não se trata de falta de inteligência ou empenho, defende a psicóloga, mas de falhas estruturais que não resgatam os alunos a tempo.
A escola, que deveria alimentar a curiosidade natural das crianças, transforma muitas vezes a aprendizagem em frustração. O resultado é um ataque à autoeficácia — a confiança em si próprio. “Todas as crianças conseguem aprender, desde que saibamos identificar onde está o bloqueio”, sublinha. A pandemia agravou este cenário, sobretudo entre os que entraram no 1.º ciclo durante confinamentos, sem contacto humano e sem estímulo social.
Mas o problema vai além da escola. Crianças e adolescentes lidam com inseguranças emocionais que se manifestam ora em agitação e agressividade, ora em retraimento silencioso. Em ambos os casos, são frequentemente ignorados ou rotulados. Gaspar insiste na necessidade de olhar para o que está por trás do comportamento, em articulação entre pais e professores.
E em casa? A psicóloga chama a atenção para a “vinculação” — o vínculo afetivo construído nos primeiros anos de vida. O uso excessivo de ecrãs, desde cedo, pode corroer esse laço, substituindo o olhar e o colo por distrações digitais. A ausência de uma “literacia parental”, que prepare os pais para as etapas previsíveis do desenvolvimento, deixa-os sem ferramentas para lidar com as crises de cada idade.
Na adolescência, comunicar é um exercício de equilíbrio: não impor, mas estar presente; não julgar, mas ouvir. Muitas das conversas mais importantes, lembra Gaspar, surgem em momentos informais — no carro, na cozinha, no fim do dia. Transformar cada partilha numa reprimenda só gera silêncio e afastamento. Se os jovens deixam de confiar, passam a esconder.
A psicóloga lembra ainda a coincidência entre a crise da adolescência dos filhos e a “meia-idade” dos pais, muitas vezes em turbulência pessoal. Esta “tempestade perfeita” pode fragmentar famílias, mas também pode ser uma oportunidade para reinventar relações e prioridades.
No fim, a mensagem é clara: os adolescentes não são o problema. O problema é a falta de condições, tempo e escuta que lhes oferecemos. “Eles têm uma enorme capacidade de reflexão e consciência”, afirma Tânia Gaspar. “Precisam apenas de espaços seguros para o mostrar